domingo, 19 de agosto de 2012

ENSINO MÉDIO BRASILEIRO ESTÁ EM CRISE


O desempenho das escolas de ensino médio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado nesta terça-feira pelo Ministério da Educação (MEC), foi classificado pelo movimento Todos pela Educação como "uma verdadeira crise do modelo de ensino atual". Apesar de a média geral ter sido atingida, ficando em 3,7 pontos (em uma escala que vai até 10), o indicador caiu em relação a 2009 em 9 Estados: Acre, Pará, Maranhão, Paraíba, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul.
"Temos uma crise por duas razões: primeiro porque esta etapa acaba recebendo o acúmulo das deficiências das etapas anteriores, ou seja, o aluno chega com muitas lacunas de aprendizagem. Em segundo lugar, ocorre um problema de estrutura. Temos um ensino médio com 14 disciplinas obrigatórias, não se consegue aprofundar em tema nenhum, a fragmentação é enorme", afirma a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Segundo ela, soma-se a esses fatores o desinteresse de boa parte dos estudantes nessa etapa e a falta de professores para todas as disciplinas, principalmente nas áreas de exatas. "Sabemos das dificuldades, mas termos um retrocesso em 9 Estados é simplesmente inadmissível". A diretora do Todos pela Educação defende ainda que a média nacional - de 3,7 pontos - também é preocupante já que representa um avanço de apenas 0,1 ponto em relação ao último levantamento, de 2009. "O retrocesso de uma edição para outra é um absurdo, mas também não deveríamos ter essa estagnação. Estar estagnado é regredir porque o nosso ensino é muito ruim, então, o mínimo esperado seria avançar".
Ela ainda cita o exemplo de Alagoas, único Estado do País em que o desempenho do Ideb de 2011 foi inferior ao registrado em 2005 para o ensino médio - de 3 naquela primeira avaliação, passou para 2,9 no ano passado. "Isso é um problema de gestão, porque recursos para investir todos os Estados têm. É muito fácil sentar e formular planos, mas na implementação das ações que a gestão aparece. E Alagoas não consegue implementar seus planos", critica.
O secretário de Educação e Esportes de Alagoas, Adriano Soares, não quis se pronunciar sobre os novos dados do Ideb. Sobre os problemas na pasta, Soares admitiu os números negativos e disse que a educação alagoana está sendo preparada "focando o futuro".
Bons exemplos
Para a diretora do Todos pela Educação, os dados do desempenho das escolas nas séries iniciais do ensino fundamental devem ser celebrados. "Nesta etapa temos mais clareza dos avanços e do que precisa ser feito para melhorar. Temos que pegar os bons exemplos, como o Ceará, que avançou 0,9 ponto em dois anos, e o Piauí, que cresceu 0,8 ponto. São Estados pobres que conseguiram dar grandes saltos. Possuir uma renda mais baixa que a média nacional não foi usado como desculpa para não fazer. Precisamos olhar para esses locais e entender o que foi feito, disseminar as políticas exitosas", disse Priscila Cruz.
Nas séries iniciais, o Brasil superou a meta estabelecida para o Ideb em 0,4 ponto, atingindo o patamar de 5 pontos. Nas séries finais, a meta foi superada em 0,2 pontos, atingindo 4,1. "Nas séries finais perdemos um pouco o fôlego, com um avanço menor que traz indícios da crise que estoura no ensino médio, com maior repetência e redução significativa na aprendizagem", afirma. Para a especialista, mudar o perfil da última etapa da educação básica passa por repensar o currículo. "Precisamos também acabar com ensino noturno e ter mais oferta de escolas em tempo integral para que os alunos consigam reverter acúmulo de déficit das etapas anteriores e avançar no aprendizado", completa.
Ideb
A avaliação foi criada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2007, com dados contabilizados a partir de 2005, e leva em conta dois fatores que interferem na qualidade da educação: o rendimento escolar (aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho nas avaliações da pasta (Prova Brasil e Saeb). Os exames avaliam o conhecimento dos alunos em língua portuguesa e matemática no final dos ciclos do ensino fundamental, de 4ª série (5º ano) e 8ª série (9º ano), e no terceiro ano do ensino médio.

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